Energia para criar - Projetos de cientista brasileiro
Em 2001, o Brasil enfrentou a maior crise energética da história, com racionamento e risco de apagão. Foi quando
o engenheiro Fernando Ximenes percebeu que havia algo errado no sistema
de energia do país. Por que ficar refém das termelétricas se há formas
de energia alternativas? Veio a luz: depois de anos de pesquisas, ele
criou o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por fontes
alternativas.
Chamado de
Produtor Independente de Energia (PIE), o poste híbrido, lançado em 2008
pela Gram-Eollic — empresa de Ximenes que trabalha no ramo da energia
eólica desde 1989 —, produz a própria energia e tem no topo, a 12
metros de altura, um “avião” de três metros de largura. De fibra de
carbono e alumínio, as “asas” são revestidas de células fotovoltaicas
que captam luz solar e a transformam em eletricidade. A frente do
aparelho é dotada de uma hélice que giram com o vento, gerando energia
eólica, também convertida em elétrica.
A energia é transmitida
para uma bateria, abaixo do avião, com capacidade de armazenamento de
até 70 horas, o bastante para manter acesa uma lâmpada por seis ou sete
dias. “Cada poste é capaz de abastecer outros três”, explica. Segundo
Ximenes, o dispositivo poderia iluminar ruas e estradas hoje no escuro —
só 4% do consumo energético brasileiro corresponde à iluminação
pública.
O
interesse pela ciência vem da infância. Criança, desmontava carrinhos
de brinquedo para remontá-los do jeito que achava melhor. Também
insistia para a mãe deixá-lo derreter chumbo nas panelas da cozinha e
fabricar bonecos e, aos 8 anos, após ganhar um aquário, passou a
desenvolver comidas e rações para os peixes. Também desenhou e construiu
novos aquários que oxigenavam melhor a água.
“Na adolescência,
tive um kart de corrida que eu desmontava, regulava freios. Depois mexia
também no motor e no carburador do carro do meu pai. Quando passei no
vestibular, ganhei um Fusca que todos os fins de semana desmontava na
garagem.”
A afinidade com carros e a busca por fontes
alternativas se juntaram no protótipo do primeiro carro a usar quatro
formas de energia simultâneas: combustão de álcool e de gasolina,
energia solar e energia eólica. O veículo quadriflex, de 2010, é um Fiat
Uno adaptado a um custo médio de R$ 8 mil.
O carro funciona com
um motor comum, impulsionado por etanol e gasolina. As energias
alternativas — geradas através de uma placa fotovoltaica no teto e
hélices na parte da frente — alimentam o ar-condicionado e a bateria, já
que o automóvel não possui alternador, reduzindo o consumo de
combustível. Ximenes agora trabalha para tornar o carro
autossustentável, tendo a combustão apenas como reforço. “A economia de
combustível pode chegar a 40%.”
Ele diz já ter tentado convencer
montadoras sobre as adaptações. No entanto, nas reuniões com empresários
americanos não houve acordo.
Sob risco de uma nova crise
energética no país, ele defende o investimento na produção de outras
formas de energia além da hidrelétrica, termelétrica e nuclear, que
dominam o sistema elétrico nacional. “Precisamos buscar mais autonomia e
não depender dos sistemas dos quais estamos reféns e que prejudicam
tanto o nosso ambiente”, afirma. “O vento e o sol são energias
primárias, limpas e bastante vastas.”
“Ele é um daqueles malucos
que ajudam a inovação a caminhar”, descreve Adão Linhares Muniz,
presidente da Câmara Setorial de Energia Eólica do Ceará, na qual tem
Ximenes como colega. “Mas, na ânsia de fazer, muitas vezes deixa de lado
o respaldo científico para validar aquilo que faz. Sem validação não
adianta a inovação”, avalia.
De fato, não há estudos acadêmicos
mensurando os resultados sobre os inventos. Mesmo assim Ximenes acredita
que o tempo comprovará sua importância. “Quero poder deixar um legado
para as próximas gerações, nem que seja um mundo um pouco melhor e mais
confortável.”
É a filosofia por trás de outros projetos de
Fernando Ximenes, como os painéis no Hospital da Mulher de Fortaleza, o
primeiro a ser alimentado com energia solar. “A gente não pode aceitar
sempre que as coisas sejam como são”, defende. É daí que ele tira tanta
energia.
FONTE: REVISTA GALILEU
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